Código supostamente indecifrável foi solucionado por estudante de 21 anos

Um livro exposto na Biblioteca John Carter Brown, em Rhode Island, estado americano, guardava um mistério indecifrável até pouco tempo atrás.

As margens do livro continham caracteres de alguma língua estrangeira, escritos no século XVIII por Roger Williams, considerado o fundador deste que é o menor dos 50 estados americanos e um precursor da proposta de separar igreja e estado – considerada polêmica na época, mas que foi mais tarde adicionada à Carta de Direitos dos EUA, as primeiras dez emendas da constituição americana.

Quem conseguiu finalmente compreender o que estava escrito foi uma equipe de estudantes da Universidade Brown, localizada no estado. Os historiadores consideram que a descoberta é a maior contribuição desta geração ou até de outras em relação aos estudos do personagem histórico.

Os códigos de Roger estão anotados nas margens de um livro de 250 páginas chamado “An Essay Towards the Reconciling of Differences Among Christians” (“Um Ensaio para Reconciliar as Diferenças entre Cristãos, em tradução livre). O livro está na biblioteca desde o século XIX, com uma nota escrita à mão identificando Roger como autor, mas na época, não se sabia com certeza se a identificação era legítima.

As tentativas de decifrar o código começaram há alguns anos, quando Edward Widmer, então diretor da biblioteca; J. Stanley Lemons, estudioso e professor emérito de história da Faculdade de Rhode Island; e outros se juntaram para decifrar os caracteres. Mas o trabalho só começou a render mesmo neste ano, quando a universidade resolveu abrir o desafio para estudantes da graduação. Alguns deles lançaram então um projeto independente.

Edward afirmou à Fox News que “ninguém jamais olhou para isso tão sistematicamente assim em gerações. Eu acho que as pessoas provavelmente olharam e encolheram os ombros”.

O estudante de 21 anos de Belmont, Lucas Mason-Brown, fez a maior parte dos trabalhos de decodificação. Seguindo um instinto de desenvolver uma ferramenta estatística, ele usou análises específicas, que observam a frequência de letras e grupos de letras em um texto – mas isso não adiantou muito, inicialmente.

Ele então descobriu que Roger foi treinado em taquigrafia em Londres, e construiu o seu sistema baseado em um que já existia. Lucas então refinou sua análise e conseguiu uma chave rudimentar.

O sistema de Roger continha 28 símbolos que combinam letras e sons da língua inglesa. Para decifrar este código, é necessário entender como elas são agrupadas, pois combinações diferentes resultam em palavras diferentes – como o nosso alfabeto. Para complicar ainda mais, Roger sempre improvisou.

Então, Lucas conseguiu decifrar alguns fragmentos, e, com seus colegas, propôs que havia três pedaços separados de notas, sendo duas de outros livros (um de geografia histórica do século XVIII e outro de medicina) e uma contendo 20 páginas dos pensamentos originais de Roger sobre o batismo de crianças, na época, uma importante questão teológica. Roger também ponderava sobre a conversão dos nativos americanos, colocando que ela ocorreu por meio de coerção e traição, segundo Linford Fisher, professor de história na Universidade de Brown que trabalhou com Lucas.

Linford acredita que o material é importante, entre outros motivos, por ser um dos últimos trabalhos de Roger. Foi escrito em algum momento após 1679, nos seus últimos quatro anos de vida. Mas há outros motivos que fazem disso uma descoberta histórica.

Segundo Edward: “Parte disso foi a empolgação de um mistério ser decifrado, e parte porque Roger Williams é muito famoso na Rhode Island – nenhum outro estado tem um fundador tão ligado à identidade do estado como ele. Ter uma grande nova fonte, um grande novo documento de Roger Williams é de muita importância”, diz ele. [Jornal Ciência]