De onde vêm os golfinhos de parques marinhos?

No último fim de semana, pescadores caçaram cerca de 250 golfinhos na enseada de Taiji, no Japão, e escolheram alguns deles, incluindo um golfinho albino extremamente raro, para serem vendidos a parques e aquários marinhos.

Os defensores da caça aos golfinhos argumentam que se trata de uma tradição cultural, mas a demanda por esses animais também vem de aquários e parques marinhos, que movimentam uma indústria de bilhões de dólares em todo o mundo.

O Discovery investigou a origem dos golfinhos que vivem em cativeiro nos Estados Unidos, e constatou que cem deles estão em exibição em 23 parques em todo o país, segundo a Ceta-Base, uma base de dados sobre os cetáceos mantidos em cativeiro em todo o mundo.

A Aliança de Aquários e Parques de Mamíferos Marinhos garante que 64% dos golfinhos de seus associados não são selvagens, mas nasceram em suas instalações.

Alguns desses golfinhos vivem durante décadas, como Toad, que pertenceu à Marinha americana por 45 anos, e Nellie, golfinho do parque Marineland Dolphin Adventure, na Flórida, há 60 anos.

Mas outros não sobrevivem por tanto tempo. Em um estudo de 2009, co-publicado pela Sociedade Protetora dos Animais dos Estados Unidos e pela Sociedade Mundial de Proteção Animal, os autores escrevem:

“Ainda há um debate acirrado sobre as taxas de mortalidade e longevidade, sobretudo de baleias e golfinhos. A taxa de mortalidade durante a captura de animais vivos é mais evidente: a captura é indiscutivelmente estressante para os golfinhos, aumentando em seis vezes o risco de mortalidade durante e imediatamente após a captura”.

Apesar disso, a Lei de Proteção dos Mamíferos Marinhos (MMPA), promulgada em 1972, legalizou a captura de golfinhos selvagens para fins de entretenimento, embora nenhuma licença tenha sido concedida desde 1989. Uma explicação possível, segundo a Sociedade Mundial de Proteção Animal , é o número inédito de encalhes de golfinhos nas últimas duas décadas, o que tornou desnecessária sua captura.

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Outra razão é que é legal importar golfinhos selvagens de outros países, desde que tenham sido capturados segundo as leis norte-americanas.

“A MMPA exige que as importações não provenham de métodos de captura desumanos ou populações insustentáveis “, explica David Phillips, diretor-executivo do Earth Island Institute e do Projeto Internacional de Mamíferos Marinhos. Mas segundo ele, o registro de informações é precário e outros países podem justificar seus métodos, mesmo que descumpram os padrões norte-americanos.

Até mesmo a expressão “população insustentável” é questionável quando aplicada a animais como os golfinhos nariz-de-garrafa, que não correriam risco segundo a Lei de Espécies Ameaçadas de Extinção.

“Há poucos dados disponíveis sobre os golfinhos nariz-de-garrafa, segundo a Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza, e não se sabe quais são as tendências populacionais nos Estados Unidos”, contra-argumenta Ric O’Barry, diretor de campanha do Projeto Golfinho, que monitorou a caça aos golfinhos na enseada de Taiji.

O capitão Paul Watson, da Sea Shepherd Conservation Society, e sua equipe também acompanharam o evento em Taiji. Segundo informações de anos anteriores, eles relatam que muitos dos golfinhos de Taiji são enviados para  o México, Turquia, Dubai, China, Hong Kong, Taiwan, Coreia do Sul e outras regiões do Japão .

No entanto, muitos aquários nos Estados Unidos ainda tentam importar golfinhos de lugares como o Japão e a Rússia, onde denúncias de tratamento desumano são comuns. Em 2012, o SeaWorld tentou obter uma autorização para importar um golfinho-do-pacífico do Japão, que teria nascido em cativeiro. No entanto, não foi comprovado que este ou outros golfinhos japoneses tenham vindo diretamente de Taiji.

“Documentos em outros países podem ser falsificados para esconder a verdadeira origem de um mamífero marinho, e é muito difícil questioná-los”, explica Lisa Agabian, porta-voz da Sea Shepherd.

O aumento da visibilidade dos métodos de captura de Taiji está aumentando a conscientização sobre a situação dos golfinhos selvagens destinados à indústria do entretenimento. Até mesmo a embaixatriz norte-americana no Japão, Caroline Kennedy, postou um tuíte no fim de semana, declarando sua preocupação com a caça ao golfinhos japoneses.

Por enquanto, os ventos parecem soprar a favor da  bilionária indústria de parque marinhos.

[Animal Planet]