O que acontecerá se nós queimarmos todos os combustíveis fósseis da Terra?

Se você já se derramou um chá gelado em um dia de verão quente, você sabe que essa bondade fria não fica por aqui por muito tempo. Isso porque (obviedade ativada) gelo não fica bem no calor.

Essas mesmas leis (descontroladamente óbvias) da termodinâmica que governam o seu refresco também governam o resto do mundo. Gelo, quando confrontado pelo calor, derrete, quer se trate de um cubo, ou das camadas de gelo da Groenlândia e da Antártida.

Um novo estudo publicado na Science Advances constatou que se queimarmos todos os combustíveis fósseis restantes na Terra, quase todo o gelo da Antártida derreterá, potencialmente causando a elevação do nível do mar em até 60 metros – o suficiente para afogar a maioria das principais cidades do mundo.

Como o gelo da Antártida (em azul) se sairia em diferentes cenários de emissões de carbono

Como o gelo da Antártida (em azul) se sairia em diferentes cenários de emissões de carbono

Os combustíveis fósseis são considerados recursos não-renováveis ​​e consistem em carvão, petróleo e gás natural. Eles liberam dióxido de carbono, um gás do efeito estufa, na atmosfera quando queimado. Gases de efeito estufa prendem o calor do sol na atmosfera da Terra, causando o aumento da temperatura.

“Nossos resultados mostram que, se não queremos que a Antártida derreta, não podemos continuar a tirar combustível fóssil de carbono do solo e apenas jogá-lo na atmosfera como CO2, como temos feito”, disse Ken Caldeira, cientista do clima e co-autor do artigo, em um comunicado de imprensa. “A maioria dos estudos anteriores sobre a Antártida tem focado na perda da camada de gelo da Antártida Ocidental. Nosso estudo demonstra que a queima de carvão, petróleo e gás também pode provocar perda na camada de gelo da Antártida Oridental, que é muito maior.”

Segundas opiniões não são muito melhores. Outro estudo recente de Stanford constatou que, embora a camada de gelo do leste da Antártida tenha estado mais estável do que nós acreditávamos (mesmo durante tempos muito quentes da história da Terra), uma estimativa conservadora ainda mostra o nível do mar subindo dramáticos 13 metros, supondo que ele volte a extremos (pré)históricos.

E se você restringir o escopo para baixo a uma escala de tempo mais humana, a notícia é ainda bastante sombria. A NASA estima que o nível do mar vai subir no mínimo 1 metro, provavelmente durante o próximo século. Isso pode não parecer muito, em comparação com 60 ou 13 metros, mas mesmo 30 cm de elevação do nível do mar é o suficiente para começar a invadir importantes instalações da NASA, muitas delas estão em zonas costeiras, para não mencionar a maioria das grandes cidades situadas no litoral.

Felizmente, existem alternativas. Este peculiar final aguado pode ser evitado se o uso de energia for direcionado para longe dos combustíveis fósseis e para opções de energia renovável, como a eólica e a solar (ou mesmo energia nuclear, embora se livrar do lixo nuclear apresente um conjunto diferente de problemas a longo prazo).

E não há necessidade de ir para as montanhas ainda. Até mesmo os casos mais extremos de elevação do nível do mar não são suscetíveis de acontecer por alguns milhares de anos. Os autores prevêem que o nível do mar vai subir ‘engatinhando’ conforme o gelo nas regiões polares derreter, a uma taxa de um pouco mais de 2,5 cm por ano. Portanto, se quisemos cidades para evitar o destino do sapo fervido, é melhor pularmos em algumas soluções climáticas em breve.