Ancestrais dos humanos coabitaram com dinossauros

Um estudo recente concluiu que o ancestral do Homo Sapiens – um dos mais antigos em nossa árvore familiar – viveu na mesma época dos dinossauros.

Considerado o primeiro mamífero placentário, ele viveu entre 88,3 e 91,6 milhões de anos atrás, segundo estudo publicado na última edição da revista Biology Letters. Os mamíferos placentários atuais incluem os humanos e todos os outros mamíferos, exceto os que põem ovos ou têm bolsas (marsupiais).

O estudo questiona a teoria de pesquisas anteriores, baseadas unicamente em evidências fossilizadas, segundo a qual a “mãe de todos os mamíferos placentários” surgiu depois da extinção dos dinossauros. No entanto, os pesquisadores do novo estudo acreditam que a criatura precedeu o fim dos dinossauros não-aviários e que sequer estaríamos aqui se esses répteis gigantescos ainda existissem.

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“Quando os dinossauros foram extintos, muitos nichos ecológicos ficaram vagos e foram ocupados pelos mamíferos placentários”, explica o autor do estudo, Mario dos Reis. “Nosso ancestral placentário se diversificou e evoluiu até os mamíferos de hoje, como roedores, cervos, morcegos, macacos e, por fim, humanos”.

“Se os dinossauros não tivessem sido extintos, os mamíferos placentários não teriam tido a chance de se diversificar e nossa própria espécie não teria evoluído”, acrescenta Reis, pesquisador do Departamento de Genética, Evolução e Meio Ambiente da Universidade College de Londres.

Reis e seus colegas, Philip Donoghue e Ziheng Yang, analisaram 36 genomas completos de mamíferos e de registros fósseis, concluindo que os mamíferos placentários se originaram no período Cretáceo.

Reis explica que o DNA acumula alterações, as chamadas mutações, a intervalos de tempo regulares, um processo denominado “relógio molecular”. Por exemplo, certas moléculas de DNA em humanos e outros primatas sofrem mutações em cerca de 1% de sua estrutura original a cada 10 milhões de anos.

O relógio molecular, no entanto, não é perfeito e anda um pouco mais rápido em algumas espécies e mais devagar em outras.

“Nós calculamos o número de mutações acumuladas em cada linhagem de mamíferos, corrigindo as discrepâncias no relógio. Em seguida, somamos as idades dos fósseis conhecidos para calcular a idade do ancestral placentário”, explica Reis.

Com base em estudos anteriores, acredita-se que esse animal era pequeno, noturno e bastante agressivo. Teria vivido bem longe do impacto do asteroide que causou a extinção dos dinossauros não-aviários, e provavelmente se salvou graças a seu tamanho, habitat e/ou estilo de vida.

Uma das concepções artísticas do ancestral dos mamíferos

Uma das concepções artísticas do ancestral dos mamíferos

Cerca de 70% de todas as espécies desapareceram durante o evento, ocorrido 66 milhões de anos atrás, incluindo mamíferos, aves e plantas.

“Para entender por que os grandes e lentos beemontes foram extintos, enquanto aves e mamíferos mais frágeis sobreviveram, temos que explorar mais a fundo os dados sobre fósseis com base em análises moleculares. Eles sugerem os intervalos entre eras em que podemos encontrar evidências sobre grupos específicos de mamíferos”, detalha Donoghue.

Michael Benton, professor da Faculdade de Geociências da Universidade de Bristol, acredita que o conceito de relógio molecular/DNA, usado pelos pesquisadores para calcular a idade de um animal fossilizado, “utiliza abordagens amplamente aceitas e conservadoras, que levam em conta os dados que faltam nos registros fósseis”.

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É muito provável que a criatura não tivesse uma aparência muito humana, mas estudos como esse têm implicações importantes. “A relevância para os humanos é que este animal placentário foi um de nossos ancestrais”, afirma Donoghue. “Ele revela o padrão de estrutura corporal que nós herdamos. Isso permite, por exemplo, identificar quais animais são mais indicados para a pesquisa biomédica, ajudando-nos a entender melhor as doenças congênitas”.

[Animal Planet]