O argumento para matar o Bambi

Embora os seres humanos sejam extremamente bons em matar outros animais (tais como lobos), não fazemos isso de forma muito responsável, de acordo com um estudo publicado na Science.

Deixando de lado a questão da criação de gado para comida, quando se trata de caça ou captura de animais na natureza, somos predadores incrivelmente destrutivos. Nosso uso de ferramentas, de redes de pesca às armas de arcos e flechas, até pedras atiradas, significa que podemos nos dar ao luxo de ir facilmente atrás das maiores e mais difíceis presas que podemos encontrar. Isso é diferente de outros predadores que tendem a direcionarem-se aos jovens, aos velhos, ou aos fracos como alvos mais fáceis de serem derrubados.

Pense no Bambi. Imagine um conto diferente (menos Disney). Um lobo derruba Bambi e a alcateia come bem. A mãe de Bambi acaba de perder uma corça, mas ela é capaz de reproduzir com facilidade, e, na próxima época de acasalamento, ela tem Bambi 2.0.

Agora, imagine a versão Disney, que é estranhamente mais verdadeira para a vida (ignorando os animais antropomorfizados). O caçador humano mata a mãe de Bambi. Bambi é apenas um bebê e tem que esperar um longo tempo para se reproduzir, crescendo e evitando outros predadores até que ele encontra uma corça bonita, chamada Faline, e tem gêmeos.

Esse cenário/vida real Disney é um problema. Ao matarmos os adultos estamos dizimando populações de animais selvagens. “Considerando predadores como alvo, principalmente os jovens ou as populações de ‘interesse reprodutivo’, os seres humanos baixam o ‘capital reprodutivo’, explorando presas adultas”, diz o co-autor Tom Reimchen em um comunicado de imprensa.

E não estamos apenas caçando herbívoros bonitos dos desenhos animados. Em terra, nós matamos muito mais carnívoros do que outros predadores, e nos oceanos, a situação é ainda mais grave.

Um gráfico que mostra a taxa na qual exploramos herbívoros (H), carnívoros (C), e os predadores de topo (TP)

Um gráfico que mostra a taxa na qual exploramos herbívoros (H), carnívoros (C), e os predadores do topo (TP)

O problema é que, como uma cultura, nós favorecemos comer e matar os maiores e mais fortes animais. E fazemo-lo tanto que, muitas vezes, os animais que são deixados são menores e menos robustos.

Então, o que vamos fazer sobre isso? Em um artigo que acompanha o estudo, Boris Worm, com a Universidade de Dalhousie, observa:

Nós temos a capacidade incomum para analisar e conscientemente ajustar nosso comportamento para minimizar as conseqüências deletérias. Este último ponto, creio, irá revelar-se crítico para nossa contínua coexistência com a população selvagem viável na terra e no mar.

Esse ajustamento consciente não tem que incluir comer o Bambi. O que os autores sugerem é trazer o nosso nível de capturas selvagens mais em linha com as taxas de outros predadores do topo, e tolerar a presença de outros carnívoros. (Isso pode ser um outro desafio total – ninguém quer perigosos predadores em seu quintal.) E outros métodos, como o desenvolvimento de práticas de pesca mais sustentáveis, poderiam ajudar.

Mais uma vez, tudo se resume a nós.