Atletas amadores podem desenvolver degeneração cerebral como os profissionais

Depois de décadas de pesquisa, os suicídios trágicos de vários ex-jogadores de futebol americano profissional, e até mesmo um filme, estamos começando a compreender os efeitos devastadores da encefalopatia traumática crônica (CTE), uma doença degenerativa do cérebro causada por lesões repetidas na cabeça como concussões. Agora, pesquisadores têm olhado para além dos profissionais e descobriram que o trauma de esportes recreativos podem provocar a condição, de acordo com um estudo publicado na edição deste mês da revista Acta Neuropathologica.

Para o estudo, os pesquisadores analisaram registros clínicos de pacientes que doaram seus cérebros para o banco de cérebros Mayo Clinic Brain Bank e selecionaram 66 pacientes que eram conhecidos por ter participado de esportes de contato enquanto jovens adultos. Quando os pesquisadores examinaram seu tecido cerebral, eles descobriram que 32% dos pacientes apresentaram sinais distintivos de CTE. Eles também descobriram dois marcadores genéticos que podem tornar os pacientes mais suscetíveis a CTE, uma vez que eles só apareceram na composição genética de pacientes que tinham desenvolvido a doença.

Embora estes resultados possam parecer preocupantes, é importante olhar para eles com algumas ressalvas. Este estudo é o primeiro a analisar cérebros de um banco para os sinais de CTE, e é um dos primeiros a determinar a presença da doença utilizando as diretrizes estabelecidas pelos NIH (Institutos Nacionais de Saúde dos EUA) – orientações que são suscetíveis de mudarem à medida que mais estudos são feitos em bancos cerebrais semelhantes. O tamanho da amostra também é bastante pequeno, como o Bloomberg News aponta, especialmente se ele é pretenso de ser representativo da população geral como os pesquisadores afirmam. Além disso, os pesquisadores observaram que alguns dos pacientes incluídos no estudo sofriam de demência; enquanto CTE aparece frequentemente com outras doenças neurodegenerativas, as doenças podem desempenhar um papel no desenvolvimento umas das outras, confundindo os efeitos específicos da CTE.

Os pesquisadores observam que suas descobertas (especialmente aquela sobre os biomarcadores para suscetibilidade à CTE) precisam ser estudadas com um grupo maior. E, embora a crescente evidência para os efeitos prejudiciais dos esportes de contato estarem fazendo alguns pais pensarem duas vezes antes de matricularem seus filhos no futebol americano amador, os pesquisadores não querem que os pais a interpretem este estudo como o desencorajamento para o atletismo. “O objetivo do nosso estudo não é desencorajar as crianças e adultos de participarem de esportes, porque acreditamos que os benefícios para a saúde mental e física são grandes”, disse Kevin Bieniek, o principal autor do estudo, em um comunicado de imprensa. A esperança, acrescentou, é que estudos como este possam ajudar os pesquisadores e treinadores a desenvolverem formas mais eficazes para proteger o cérebro dos jovens atletas.