Cães e lobos não são parentes tão próximos

A crença generalizada de que os cães evoluíram dos lobos-cinzentos pode cair por terra. Segundo um novo estudo, o ancestral comum de cães e lobos foi extinto há milhares de anos.

Publicado na última edição da revista PLoS Genetics, o estudo consistiu em uma extensa análise de amostras de DNA e descobriu que os cães são mais próximos entre si que do que dos lobos, independentemente da sua origem geográfica. Portanto, é provável que a sobreposição genética atual entre cães e lobos se deva ao intercruzamento após a domesticação canina.

“O ancestral comum dos cães e lobos era um animal grande, parecido com um lobo, que viveu entre 9.000 e 34.000 anos atrás”, explica Robert Wayne, co-autor do estudo. “Com base nos vestígios de DNA, ele teria vivido na Europa”, informa o pesquisador, professor do Departamento de Ecologia e Biologia Evolucionária da Universidade da Califórnia.

Crânio de canídeo com 36 mil anos, achado em caverna na Bélgica, pode ser de animal ancestral comum de lobos e cães

Crânio de canídeo com cerca de 36 mil anos, achado em caverna na Bélgica, pode ser de animal ancestral comum de lobos e cães

A equipe de pesquisadores, chefiada por Wayne e John Novembre, gerou sequências do genoma de três lobos-cinzentos, da China, Croácia e Israel, representando as três regiões onde os cães teriam surgido.

Também foram sequenciados os genomas de duas raças de cachorros: o basenji, originário da África central, e o dingo da Austrália. Ambas as regiões são historicamente isoladas das populações modernas de lobos. Os cientistas também sequenciaram o genoma do chacal-dourado, exemplo de uma divergência anterior.

No entanto, em vez de mostrar que os três cães são parentes próximos de uma das linhagens de lobos ou da espécie mais próxima geograficamente, o DNA revelou que os cachorros descendem de um ancestral desconhecido, semelhante a um lobo.

Wayne explicou que muitos animais foram extintos durante o final do Pleistoceno (20.000 a 12.000 anos atrás), durante a era glacial global.

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Coincidentemente – ou talvez não – os humanos modernos também se tornaram mais disseminados na Europa no mesmo período, o que pode ter provocado a extinção de alguns animais.

No entanto, não há indícios claros de que os cachorros não pertenciam a esse grupo. Wayne agora acredita que as interações entre cães e humanos passaram por três etapas básicas:

1 – Caçadores e coletores, talvez até neandertais, interagiram com cães e provavelmente se beneficiaram de sua presença. Os cães podem tê-los ajudado a caçar e a afastar carnívoros mais perigosos.

2 – Com o surgimento da agricultura, os cães passaram a viver perto dos humanos e se adaptaram a uma dieta agrícola. Estudos anteriores confirmaram que os cães dessas regiões têm um número maior de genes da amilase, enzima que ajuda a digerir o amido. Os lobos também têm esses genes, mas não em quantidade tão elevada, concluiu o estudo.

3 – Na história recente, os humanos se dedicaram à criação seletiva de raças caninas, mudando radicalmente a aparência, comportamento e outras características dos cães.

Ao longo de todo este período, ocorreram e ainda ocorrem intercruzamentos com lobos, o que complica ainda mais a relação genética entre lobos e cães.

“Este trabalho é empolgante para estudantes de história e donos de cães porque esclarece os fatos que levaram à domesticação canina. Agora sabemos que não foi um evento único, mas vários, o que faz sentido quando pensamos na extraordinária variedade dos cães modernos”, explica Elaine Ostrander, pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisa do Genoma Humano, ao Discovery Notícias.

“Concluímos que a espécie intermediária, o “cão-lobo”, foi extinta, só não sabemos por quê. Teriam sido dizimados por alguma doença infecciosa ou epidemia? Foram mortos por outros animais? Ou morreram de fome?”.

[Animal Planet]