Seria este o novo “superalimento”? A fruta-pão tem potencial para amenizar a fome no mundo

Pode não ser uma fruta encontrada com facilidade em supermercados, mas a grande e exótica fruta-pão está sendo cogitada como um super alimento que irá amenizar o problema da fome em algumas regiões do mundo.

Conhecido cientificamente como Artocarpus altilis, essa fruta possui seu interior esverdeado e com uma textura parecida com a da batata cozida, de modo que ela pode ser servida como parte de uma refeição principal ou transformada em doces para a sobremesa.

Ela já é um dos principais componentes da dieta dos jamaicanos e agora os especialistas acreditam que ela pode garantir a segurança alimentar em toda a ilha, que importa mais da metade da sua comida.

É um fruto amplamente consumido em todo as ilhas do Pacífico e mais produzido que o arroz, o trigo e o milho. Ela pesa em torno de 3,17 kg e fornece carboidratos suficientes para alimentar uma família de cinco pessoas. Além de pura, a fruta-pão pode ser moída com farinha e utilizada em pratos doces e salgados, incluindo panquecas e batatas fritas. É rica em vitaminas e minerais, e é também uma alta fonte de carboidratos e proteínas, além de não ter glúten.

Diane Ragone, do National Tropical Botanical Garden, do Havaí (NTBG), vem estudando esse fruto desde os anos 80. Ela afirma que a fruta-pão madura é um substituto saudável para quaisquer alimentos ricos em amido, como arroz e batatas, e pode ser cozida ou assada. Já o fruto que ainda não amadureceu pode ser cozido, colocado em conserva ou ser marinado. Até mesmo as flores encontradas nas árvores desse fruto podem ser cristalizadas e comidas como doces.

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Juntamente com Nyree Zerega, da Universidade de Northwestern, em Chicago, ela estuda as raízes da fruta por meio de uma análise de genes. A maioria dos frutos que ela examinou teve genes compartilhados com uma planta chamada “breadnut” encontrada na Nova Guiné. Ela, então, foi cogitada para ser o ancestral da fruta-pão.

Em 2003, a Dra. Ragone criou o Instituto da Fruta-Pão do NTBG, que inclui uma plantação na ilha de Maui, nos Estados Unidos. Os cientistas estão trabalhando lá com uma aliança de caridade que monta projetos para tentar amenizar o problema da fome no mundo, distribuindo frutas-pão em lugares sem um fornecimento regular de alimentos.

“Tradicionalmente, na Polinésia, você planta uma árvore de fruta-pão a cada criança que nasce, porque isso significa a garantia de alimentos que ela vai ter ao longo da vida”, afirma Dra. Zerega.

Árvores de fruta-pão requerem pouco cuidado e prosperam nos trópicos.  Agora, especialistas estão investigando quais são as melhores variedades em cada ambiente com seu clima específico, principalmente em países que não possuem uma segurança alimentar.

A fruta-pão foi comprada pela primeira vez no Caribe, no século XVIII, para alimentar os escravos. O tenente William Bligh foi quem levou o primeiro fruto para a Jamaica, comprando-o no Tahiti. A história conta que, no caminho, muitas cargas com a fruta foram despejadas no mar, devido a vários problemas dentro do navio. Em sua segunda tentativa como capitão, em 1792, ele trouxe 2.000 mudas de fruta-pão para a Jamaica e, depois de plantadas, 678 deram frutos.

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Considerado um alimento estável e barato, era usado para alimentar os escravos e não era muito querida pelas outras pessoas, levando cerca de 50 anos para que fosse incorporado aos pratos locais.

A fruta-pão é assim chamada por causa de seu alto teor de carboidratos e fibras, que também estão presentes no pão ‘de verdade’. Além dessas qualidades, os cientistas estão tentando identificar quais variedades do fruto produzem os melhores rendimentos com relação ao teor de proteína.

Além disso, eles ainda estão tentando usar métodos de cultura diferenciados para criarem árvores que produzem os frutos mais cedo, sem perder na qualidade de seus nutrientes. Porém, o máximo que eles conseguiram foram árvores que crescem livres de pragas e doenças, e que começam a dar frutos aos dois anos de idade (três anos mais cedo que o habitual).

Das variedades propagadas, 35.000 árvores já foram enviadas para 26 países.

[Jornal Ciência]