Se os gatos pudessem falar como nós, o que diriam?

Muitos donos de gatos têm várias histórias de comportamento felino bizarro. Portanto, é natural que entusiastas dos gatos se frustrem ao tentarem criar uma solução de alta tecnologia para melhor entender seus animais de estimação.

Em 2003, uma empresa de brinquedos japonesa, Takara Tomy, lançou um gadget portátil chamado de Dispositivo de Tradução Meowlingual Cat. Equipado com um microfone, o dispositivo pode supostamente interpretar mais de 200 palavras do “bate-papo do gato” para o japonês, e recolher 21 emoções distintas de movimentos e comportamento de um gato. Mais recentemente, vários aplicativos de smartphones surgiram, na pretensão de ajudar os donos de animais a entenderem melhor os sentimentos dos seus gatos, traduzindo seus sibilos e miados.

Pesquisadores de gatos estão céticos de que essas tecnologias tradutoras funcionem como seus fabricantes afirmam. A chave para entender os nossos companheiros felinos, dizem eles, encontra-se em uma melhor compreensão de seus traços de personalidade que os tornam as criaturas temperamentais que conhecemos e amamos.

“Eu não acho que ninguém entende perfeitamente os gatos, mas todo mundo parece estar fascinado com o que eles estão fazendo”, diz Kurt Kotrschal, o chefe do Centro de Pesquisa Konrad Lorenz, que se concentra em pesquisa comportamental animal, da Universidade de Viena, na Áustria.

A maioria das pessoas diria que os cães são mais fáceis de entender do que os gatos (embora a Takara Tomy também venda o tradutor Bowlingual). Isto porque, por natureza, cães e gatos convivem de forma diferente, diz Kotrschal. Os cães são descendentes dos lobos, que estando em conformidade uns com os outros na matilha, cooperativamente caçam e criam seus filhotes. Então, quando ele vive com uma pessoa, a primeira inclinação de um cão é a de adaptar seu comportamento a seu proprietário. “Os gatos não são menos inteligentes socialmente, mas as suas vidas sociais parecem ser mais variadas”, diz Kotrschal. Os gatos são igualmente felizes vivendo em bando ou mais solitários, por isso ou não, eles estarem em conformidade com o comportamento do seu proprietário se resume a quanto eles gostam de seus donos.

Devido aos gatos tenderem a ser mais individualistas e não terem o objetivo de agradar, os pesquisadores têm sido frustrados por décadas conforme eles tentavam fazer vários testes de laboratório com os gatinhos. “Se você tentar fazer testes de cognição padronizado, [gatos] não querem participar, eles se recusam a obedecer”, diz Kotrschal. Mesmo com estudos de gatos domésticos em suas casas, os pesquisadores não tiveram nenhuma garantia de que o tópico do teste seria “sentido” até como uma punição, enquanto os seus homólogos caninos podem ser comandados de forma confiável para se sentarem e ficarem. Mas, o fascínio com os gatos tem crescido ao longo dos últimos 25 anos, e mais pesquisadores dedicaram as suas energias para desvendar os misteriosos felinos, de acordo com Dennis Turner, diretor do Instituto de Etologia e Psicologia Animal Aplicada, em Hirzel, Suíça. Agora, os pesquisadores entendem mais sobre o comportamento dos gatos – e seu relacionamento com as pessoas – do que igualmente sobre cães, diz ele.

Os gatos têm sua própria maneira de expressar-se, e aprender a ler seus palpites leva tempo. “A forma como os gatos comunicam suas emoções, muitas vezes com movimentos das orelhas e da cauda, ​​é bastante universal, você pode generalizar de um gato a outro”, diz Kotrschal. Os gatos também fazem cerca de 10 vocalizações diferentes, concorda Turner, mas nós ainda não as compreendemos perfeitamente; muitos dos sons são únicos para cada gato, e os pesquisadores não entendem ainda o que significa um ronronar.

Pelo fato de nem todos os sons do gato serem universais, amantes do felino devem ser cautelosos com qualquer dispositivo que pretende traduzi-los, diz Kotrschal. “O comportamento do gato não é tão fácil de se prever”, acrescenta. Mas um gadget que traduz vocalizações muito básicas do gato para a fala humana pode realmente funcionar.

Turner não está convencido. “Eu não acho que algo como isso iria funcionar”, diz ele, a menos que alguns pesquisadores de gatos muito qualificados ajudem a desenvolver o dispositivo. Os gatos são criaturas muito expressivas, diz ele, e se os proprietários passam tempo suficiente com eles e aprendem suas vocalizações únicas e sua linguagem corporal, eles devem ser capazes de compreender seus animais de estimação sem um gadget.

Embora as pequisas sobre gatos tenham progredido desde que o primeiro tradutor Meowlingual chegou ao mercado, não é avançado o suficiente ainda para interpretar de forma confiável as emoções dos gatos. Turner e Kotrschal concordam que pesquisas futuras sobre a comunicação do animal vão se concentrar em suas habilidades cognitivas – “Será que eles pensam? O que eles pensam? Que tipo de decisões eles fazem?” – pergunta Turner. Kotrschal também suspeita que o trabalho futuro vai responder a mais perguntas sobre como eles socializam e se unem aos seus proprietários.

Mas, por agora, os pesquisadores e proprietários de gato enfrentam igualmente problemas semelhantes quando eles tentam questionar seus felinos relutantes.