Zebras viajam 500 quilômetros na maior migração da África

Uma equipe de pesquisadores descobriu que uma população de zebras africanas realiza a mais longa migração terrestre do continente, percorrendo cerca de 500 quilômetros entre dois países, Namíbia e Botsuana. A descoberta, publicada na última edição da revista Oryx, fornece evidências sólidas de que os esforços de conservação precisam de apoio coordenado e multinacional.

“A migração envolve dezenas de milhares de zebras, que retornam das planícies inundadas do rio Chobe, na Namíbia/Botsuana, para o Parque Nacional Nxai Pan, em Botsuana”, declara o autor principal do estudo, Robin Naidoo, cientista do Fundo Mundial da Natureza (WWF). “É uma viagem de ida e volta de quase 500 quilômetros, quase toda ao longo do eixo norte-sul”, acrescenta Naidoo.

Confira imagens dessa migração incrível:

1 – Tocando em frente

Herd of Burchell's zebras (Equus burchelli)

As zebras passam a estação seca ao longo das várzeas do rio Chobe. Quando começa a temporada das chuvas, elas migram durante várias semanas para o Parque Nacional Nxai Pan, onde passam vários meses antes de fazer a viagem de volta.

2 – Saltando sobre uma poça de lama

Burchell's zebra (Equus burchellii); Etosha National Park, Namibia

As zebras avançam seguindo a mesma direção ao longo da rota de migração. “As zebras se movem em um ritmo relativamente rápido, mas não correm em grande parte da viagem”, diz Naidoo. No entanto, os animais aceleram o passo quando têm que atravessar algum trecho difícil, como esta poça de lama, ou precisam fugir de predadores.

3 – Paradinha para beber água

Burchell's zebra (Equus burchellii); Etosha National Park, Namibia

O principal alimento das zebras é o capim, que ingerem com bastante água. É provável que a migração ocorra anualmente devido à mudança de estações, mas Naidoo e sua equipe ainda não puderam confirmar com que frequência isso acontece.

4 – Fêmea com filhote

Burchell's zebra (Equus burchellii)

As fêmeas protegem os filhotes, que se tornam muito vulneráveis durante a migração. Embora seja um desafio extremamente árduo, é possível que as zebras sejam geneticamente predispostas a fazer viagens longas. Quanto à origem da migração, Naidoo explica:

“O Parque Nacional Nxai Pan tem solos muito férteis, e suas pastagens são muito nutritivas e atraentes para as zebras, que esgotam a vegetação das áreas que ocupam na estação seca”. “No entanto, existem áreas mais próximas do rio Chobe que também têm solos produtivos. Talvez as zebras ignorem essas áreas e percorram uma distância mais longa até Nxai Pan em virtude do código genético e de comportamentos culturais/aprendidos”.

5 – Grupo de zebras com filhote

Group of Burchell's zebra (Equus burchelli) with a baby zebra

As zebras são parentes próximas dos cavalos e, assim como eles, são animais muito sociais. Famílias inteiras empreendem a longa viagem de ida e volta através da Namíbia e Botsuana. Sua estrutura social depende da espécie, mas a maioria vive em “haréns”, formados por um garanhão com até seis éguas e seus potros. Quando são atacadas, as zebras se amontoam ao redor dos filhotes, enquanto o garanhão tenta confundir ou afugentar o predador. As zebras dormem em pé, mas só o fazem quando há outras zebras por perto para alertá-las quando os predadores se aproximam.

6 – O Parque Nacional Nxai Pan

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O Parque Nacional Nxai Pan é um dos maiores tesouros da África, com grandes extensões de terras quase intocadas e milhares de animais selvagens. Está sendo cotado para integrar a Área Transfronteiriça de Conservação Kavango-Zambezi (KAZA). “A migração das zebras ocorre inteiramente dentro dos limites da KAZA, e a gestão eficaz dessa área de conservação é fundamental para sua continuidade”, explica Naidoo.

7 – Girafas no caminho

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Outros animais “invadem” partes da rota de migração das zebras, como as girafas. Como ambas as espécies são herbívoras, zebras e girafas costumam dividir as pastagens pacificamente. No entanto, as girafas não figuram na lista de maiores mamíferos migradores da África.

“Além da mundialmente famosa migração dos gnus no Serengeti, há registro de migrações longas de gnus, elandes e búfalos na região do Kalahari, em Botsuana; gnus e zebras no leste de Angola/Zâmbia ocidental; e kobis e topis (ambos antílopes africanos ) no Sudão”, diz Naidoo. “As migrações mais longas do mundo são as dos caribus na América do Norte e Rússia, dos antílopes tibetanos e das gazelas da Mongólia, na Ásia”, acrescenta.

8 – Leões famintos

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Os leões são os principais predadores das zebras durante a migração, segundo Naidoo. As leoas, como a da foto, espreitam suas presas e podem disparar a até 80km/h para agarrar seu jantar.

9 – Fila única

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As zebras costumam formar filas durante a migração. Naidoo e sua equipe revelaram que as zebras enfrentam muitas ameaças ligadas à presença humana ao longo da viagem, como a ação de caçadores e a presença de cercas, que restringem as áreas onde vivem e migram. A mudança climática também começa a afetar as populações.

“Alterações nos regimes hidrológicos, a quantidade e/ou a duração das chuvas certamente devem alterar o período, os locais e a forma como as zebras migram durante a estação chuvosa “, explica o pesquisador. “Se o clima ficar tão seco a ponto de a água potável em Nxai Pan não ser mais suficiente para sustentar as manadas, a migração provavelmente acabará”.

10 – Uma zebra mostrando a língua?

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Tomara que esta jovem zebra , que parece estar mostrando a língua para a câmera, tenha chegando em segurança depois de uma viagem tão longa.

“A recém-descoberta migração das zebras coloca em perspectiva o quanto ainda não sabemos sobre o mundo natural “, comenta Naidoo. “É espantoso que uma espécie de grande porte como a zebra realize uma migração tão longa sem ninguém ter tido conhecimento até hoje”.

[Animal Planet]