Astrônomos brasileiros propõem modelo alternativo para a formação de Marte

As teorias de formação planetária mais recentes apresentam uma explicação satisfatória sobre as origens da maioria dos corpos do nosso Sistema Solar. No entanto, uma das questões mais intrigantes que ainda permanecem em aberto entre os pesquisadores diz respeito ao planeta Marte: com o conhecimento que temos até o momento, não foi possível chegar a um consenso acerca das razões que fizeram com que o astro se formasse com apenas 10% da massa da Terra, um tamanho inexplicavelmente reduzido.

Uma equipe internacional de astrônomos, liderada por pesquisadores da Unesp de Guaratinguetá, formulou um modelo que fornece uma interpretação para o fenômeno. Segundo este artigo, publicado no respeitado The Astrophysical Journal, a resposta se encontra na densidade da chamada nebulosa protossolar – a nuvem de gás e poeira que, ao longo de milhões de anos sob a ação da gravidade, deu origem a todos os corpos que orbitam o nosso sol.

O modelo sustenta que, há cerca de 4,5 bilhões de anos, durante os primórdios do Sistema Solar, houve uma acentuada redução na densidade da nuvem na região onde o planeta Marte se formou. O material teria fluído na direção do sol, concentrando-se nas órbitas da Terra e de Vênus, colaborando para que a massa de ambos fosse consideravelmente maior.

Uma outra proposta bem aceita até então, chamada pelos astrônomos de “Grand Tack”, sugere que o responsável pela massa diminuta do planeta vermelho seja o gigante gasoso Júpiter. Este modelo diz que, enquanto os planetas se formavam, a órbita de Júpiter teria migrado para perto da de Marte, “varrendo” com sua força gravitacional os corpos sólidos na direção dos outros planetas rochosos. “Esse modelo é válido, mas bastante questionável, porque é muito improvável que isso realmente tenha acontecido”, afirma o coordenador do projeto Othon Winter, em entrevista à Agência FAPESP.

Em busca de uma alternativa ao Grand Tack, os pesquisadores brasileiros se uniram a astrônomos dos Estados Unidos, Alemanha e França e chegaram à conclusão de que, se a densidade da nuvem protossolar tivesse sido reduzida entre 50% e 75% na região de Marte, as chances de que os planetas rochosos se formassem na configuração atual são maiores do que 50%. “O modelo é bem completo, porque abrange não só o problema da formação de Marte, mas mantém e consegue gerar os outros planetas terrestres com suas massas e atuais órbitas”, diz Winter.

[Galileu]