Elefantes conseguem diferenciar idiomas humanos

Os elefantes-africanos (Loxodonta africana) são os maiores animais terrestres do planeta, mas estão ameaçados pela perda de habitat e pela ação de caçadores ilegais, que os abatem pelas presas de marfim.

Pesquisadores afirmam que esses animais são capazes de diferenciar idiomas humanos e se afastar de indivíduos que consideram uma ameaça, uma habilidade que aprimoraram para sobreviver na selva. O estudo sugere que os elefantes, famosos pela inteligência, são ainda mais sofisticados do que se acreditava e conseguem entender os riscos oferecidos pelo homem.

Os pesquisadores usaram alto-falantes para emitir gravações de vozes humanas e verificar a reação dos elefantes do Parque Nacional de Amboseli, no Quênia, segundo artigo publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences.

Algumas das vozes eram de homens Maasai, nativos locais que pastoreiam gado e costumam entrar em conflito com os elefantes, com quem disputam pastagens e acesso à água. Alguns desses confrontos acabam em mortes de ambos os lados.Outras vozes gravadas eram de homens do povo Kamba, que trabalham como agricultores ou funcionários do parque nacional, e raramente representam um perigo para os elefantes. Os animais também foram expostos às vozes de meninos e mulheres Masaai.

Todos os participantes das gravações proferiram a mesma frase : “”Vejam, um grupo de elefantes está chegando”. As vozes gravadas foram reproduzidas durante o dia para centenas de elefantes de 47 grupos familiares.

Quando os elefantes ouviam as vozes de homens Maasai adultos, tendiam a se reunir, farejar a área e se afastar com cautela. Mas quando ouviam as vozes de mulheres, meninos e homens adultos do povo Kamba, não demonstraram preocupação.

Distinção de idiomas

“A capacidade de distinguir as frases dos Maasai e dos Kamba sugere que os elefantes conseguem diferenciar idiomas”, afirma o co-autor do estudo, Graeme Shannon, professor visitante de psicologia da Universidade de Sussex. Isso não quer dizer que ele entendem os significado das palavras proferidas, mas que percebem as diferenças entre dois idiomas, provavelmente pelas inflexões, uso de vogais e outras características.

“Essa reação dos elefantes é muito sofisticada. Muitos animais fogem diante de uma ameaça humana, mas um animal inteligente não faz isso”, comenta Keith Lindsay, biólogo de conservação e membro do Comitê Científico Consultivo do Projeto de Pesquisa de Elefantes de Amboseli. “A reação às vozes dos homens Maasai foi de alerta. Eles se afastaram, mas não saíram correndo como se estivessem assustados”, acrescenta Lindsay, que não participou do estudo. “Isso sugere que os elefantes são capazes de pensar e reconhecem que, se os homens Maasai estão falando, é provável que não estejam caçando, do contrário, estariam em silêncio”.

Comportamento aprendido

Grupos de elefantes com matriarcas mais velhas avaliaram melhor as ameaças de diferentes vozes, o que reforça o suposto papel do aprendizado no comportamento animal.

Os elefantes também não reagiram da mesma forma quando ouviram urros de leões, como demonstrou um estudo anterior. Nessas situações, eles se aglomeraram ao redor dos filhotes, os mais vulneráveis a um ataque, e se moveram na direção do som, como se quisessem afugentar os leões.

Os elefantes podem não ser os únicos mamíferos a reconhecer seres humanos. Outras pesquisas, realizadas no Brasil, sugerem que golfinhos selvagens se familiarizaram tanto com os seres humanos que passaram a caçar de forma cooperativa com pescadores artesanais. Estudos com macacos de grande porte, corvos e até cães-da-pradaria revelaram que esses animais são capazes de diferenciar seres humanos em algum nível.

Um outro estudo, publicado no mês passado na revista PLoS ONE, mostrou que os elefantes usam chamados de alerta específicos quando há seres humanos por perto. Isso sugere que os conflitos entre homens e elefantes chegaram a um ponto crítico, e que os esforços de conservação são mais importantes do que nunca. “Nós nos tornamos inimigos formais dos elefantes”, assevera Lori Marino, especialista em inteligência animal na Universidade de Emory. “Eles não só conseguem fazer algumas distinções entre nós, como nos colocaram na lista de espécies que devem evitar”.

[Animal Planet]