Como uma cobra consegue engolir um boi?

As duas maiores espécies de cobras do mundo, a sucuri (ou anaconda) e a píton, já foram flagradas devorando não exatamente bois, mas bezerros. Veados, antas, antílopes, jacarés e capivaras são outras vítimas de grande porte que também podem ser atacadas pela sucuri (encontrada na Amazônia) ou pela píton (natural da Ásia), que atingem de 9 a 10 metros de comprimento.

Para comer um bezerro, essas serpentes têm um trabalho danado. Elas precisam sufocar a presa até a morte e usar uma série de “armas” anatômicas para conseguir engolir um bicho tão grande. “Dependendo do tamanho da presa, a cobra fica depois semanas sem se alimentar. Em alguns casos, ela pode até morrer em função das dimensões do animal”, afirma o biólogo Otávio Marques, do Instituto Butantan, de São Paulo.

Pegando o boi pelo chifre

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1. A sucuri é uma cobra não venenosa, semi-aquática e costuma caçar na beira de córregos, rios e lagos. Ela fica na espreita e aproveita quando um animal – por exemplo, um bezerro – vem beber água. O ataque começa com um salto rápido sobre a presa para cravar os dentes na parte superior do corpo da vítima

2. Para ter um ponto de apoio, ela mantém a forte mordida enquanto se enrola em volta do bezerro. O aperto é tão forte que impede os movimentos respiratórios e cardíacos da presa, levando-a à morte. Para matar um bezerro, a sucuri pode precisar sufocá-lo por mais de meia hora

3. Quando a presa pára de se debater e está morta, a sucuri começa a devorá-la. Como enxerga muito mal, ela usa a sensibilidade da ponta do focinho e da língua para “farejar” a cabeça da vítima, que é a primeira parte da presa a ser engolida

4. Para abocanhar um animal tão grande, a sucuri conta com a movimentação de ossos na boca. Ela tem uma mandíbula bipartida, que se abre no sentido horizontal. Um osso chamado quadrado amplia a abertura vertical, pois “desloca” a ligação entre a mandíbula e a maxila superior

5. A boca da sucuri ainda tem outros truques. Sua maxila superior é dividida em duas partes, que se movem alternadamente para frente e para trás. Esse movimento vai, aos poucos, empurrando a presa para dentro do corpo da cobra

6. A pele e órgãos como o esôfago e o estômago se dilatam com facilidade, permitindo que a cobra engula presas enormes — o diâmetro, de uns 30 cm, chega a se expandir três vezes! Dentro da cobra, o “rango” é empurrado pela musculatura para atravessar o esôfago, que se estende por 2 dos 9 metros da sucuri

7. No estômago, que mede cerca de 1,5 metro quando vazio, o bezerro é desintegrado com ajuda de potentes enzimas digestivas. Ao contrário do que muita gente pensa, a sucuri não regurgita nada do que come. A digestão de uma presa deste tamanho pode levar semanas, período em que a cobra fica em repouso

8. Cerca de um mês após o ataque, a sucuri começa a defecar os restos do bezerro. “O primeiro cocô, uma massa compacta, escura e quase sem cheiro, tem restos de dentes, pêlo e casco, e equivale a cerca de um terço do peso corporal da presa”, diz o biólogo Guilherme Galassi, do zoológico Vida Selvagem, de Americana (SP)

[Mundo Estranho]